Não tenho tempo – Jornal Árvore da Vida
“Não tenho tempo”- respondi a vários pedidos de ajuda nas últimas semanas, Inicialmente me senti profundamente incomodado e, até mesmo, envergonhado. Não conseguia encontrar um espaço sequer na minha conturbada agenda. Depois de várias semanas sem querer conseguir tempo para refeições, já não me incomodava tanto dizer: “Não tenho tempo”.
Após dois meses nesse ritmo, comecei a desafogar-me e a considerar o que acontecia com meu tempo: será que os dias ficaram simplesmente mais curtos? Será que fui perdendo a percepção das coisas mais importantes, até já não conseguir reservar-lhes tempo? O fato é que foi muito boa a sensação de poder acordar tranquilamente, tomar café, orar, ler – fazer o que pessoas saudáveis fazem com seu tempo.
Por outro lado, comecei a considerar que, na verdade, não tenho mais tempo para esses períodos “sem tempo”. Afinal, o dia do Senhor está às portas, e ainda tenho um longo percurso à frente, até poder dizer, como Paulo: “Completei a carreira, guardei a fé”(2 Timóteo 4:7). Por isso passei a orar, pedindo ao Senhor que me ensinasse a administrar meu tempo, que me ajudasse a entender e seguir o Seu tempo. E isso me trouxe à memória o que já havia lido sobre o assunto.
O tempo
Salomão, ao discorrer sobre o tempo, fez duas considerações: primeiramente, há tempo para tudo – tempo de derribar e tempo de edificar, de chorar e de rir (Eclesiastes 3:1-8). A outra conclusão é que tudo o que é já foi, e o que há de ser também já foi (v.15). Há tempo de estudar; tempo de trabalhar; tempo de casar-se. E tudo o que há de ser já foi, ou seja, assim como você “não tem tempo” enquanto é estudante, você não terá tempo como profissional, cônjuge, pai. Por isso é preciso aprender o quanto antes a administrar o tempo.
Precisamos entregar-nos ao Senhor: gastar tempo com Ele. Posso dizer com segurança que os momentos vividos na presença do Senhor são os mais valiosos, frutíferos e satisfatórios. São as melhores lembranças. Jovem, não perca seu tempo. Se não andar com o Senhor agora, você dificilmente terá chances de andar com Ele quando tiver de dividir seu tempo para cuidar de seu cônjuge, filhos e carreira profissional (Gênesis 5:22).
Santo Agostinho, autor do livro que marcou o entendimento teológico e filosófico do assunto, mostra o tempo como o espaço de oportunidades pontuais que temos a fim de receber a salvação. Para ele, o passado já não é real, e o futuro ainda não existe. Portanto o único tempo que temos é o presente, do qual estamos conscientes e no qual podemos acessar a graça divina. Para Agostinho, quando a Civitas Dei – termo forjado por ele para a igreja como “A cidade de Deus”, ponto focal e consumação da obra de Deus no universo – estiver pronta, já não haverá tempo, pois tudo será perfeito e eterno (Apocalipse 10:6). Portanto o tempo de buscar o Senhor é agora. Não podemos relegar nossa consagração a um futuro incerto nem contentar-nos com experiências do passado.
Muitos notáveis expositores da Bíblia, como John Nelson Darby, C.H. Machintosh e C.I. Scofield, numa abordagem menos filosófica, concluíram que o tempo é apenas uma ponte entre a eternidade passada e a futura, na qual Deus faz Sua obra de maneira contínua e progressiva. Para eles, não será necessário contar o tempo na última dispensação, quando vier a nova Jerusalém, como centro do novo céu e da nova terra, pois ali já não haverá noite, não haverá passagem de dias (Apocalipse 22:5). Contudo a dispensação da graça está dentro dessa ponte do tempo, assim como a dispensação do reino. Agora, portanto, no tempo da graça, que é limitado, precisamos desfrutar e fazer conhecida a graça de Deus para, na dispensação do reino, uma dispensação de disciplina ou recompensa, sermos participantes do reino milenar com Cristo.
Fora do tempo
Qualquer que seja nossa percepção do tempo – uma série de ciclos repetitivos, um ponto isolado, uma ponto entre eternidade e eternidade ou apenas uma dimensão no sistema espaço-tempo –, não podemos esquecer-nos de que Deus não está limitado ao tempo. Ele não vê o tempo como nós vemos. Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia (2 Pedro 3:8). Pois mil anos, aos Seus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite (Salmo 90:4).
Às vezes achamos que os dias encolheram. Às vezes sofremos à espera de algo, contando minutos que demoram uma “eternidade” para passar. Nossa percepção do tempo, assim como nossa percepção de quase tudo o que é importante, é muito centrada em nossas necessidades imediatas, em nosso estado de espírito, em nosso coração enganoso. É por isso que é tão difícil administrar o tempo, pois não somos capazes de administrar o próprio coração. Mas o Senhor conhece o nosso coração, Ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó (Salmo 103:14).
Ele viu nossa substância ainda informe, e no Seu livro foram escritos todos os nossos dias, cada um deles havia ainda (Salmo 139:16). O Senhor não só percebe o tempo de maneira diferente, mas também quer mostrar-nos o tempo de maneira diferente. Ele quer que vejamos as coisas de acordo com o coração Dele, que não muda. Por isso pôs a eternidade em nosso coração, e somente Ele, que é maior do que a eternidade, pode encher nosso coração e dar sentido à nossa vida (Eclesiastes 3:11).
Contar os nossos dias
Jovem, como está seu tempo? Você realmente acha que não tem tempo disponível para ler a Bíblia ou orar? Você acha que terá mais tempo de passar essa fase com disciplinas difíceis e muitos projetos extraclasse? Ou será que, depois de passar naquele concurso, você terá tempo para se dedicar ao Senhor? Em Gênesis 4:16-24 vemos a descendência de Caim, uma geração que fez muitas coisas. Eles construíram cidades, inventaram armas e instrumentos musicais, providenciaram para si sustento e habitação. Mas nenhum de seus dias foi contado. Quando os comparamos aos descendentes de Sete, irmão de Caim, vemos que esses últimos não têm grandes realizações registradas, mas cada um de seus dias foi contado (Gênesis 5).
A grande virada, a grande diferença entre as gerações de Gênesis 4 e 5, é que Sete, ao perceber sua fragilidade, começou a invocar o nome do Senhor (4:26). Esse é o tempo que importa: o tempo que passamos buscando o Senhor, invocando Seu nome. Que o Senhor nos ensine a contar os nossos dias, para alcancemos um coração sábio, um coração que O invoque. O ame e O busque constantemente (Salmo 90:12).
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